O QUE É O LUTO?
O luto por alguém que nos morreu é um período de enfrentamento da dor da perda que surge em resposta ao rompimento físico do vínculo de amor. As pessoas que amamos possibilitam-nos um sentimento de segurança e a regulação das nossas emoções na interacção com elas, por isso, aquando da sua ausência sentimo-nos ameaçados e em desequilíbrio emocional.
Enlutar é um processo natural com manifestações muito diversas.
- Manifestações Emocionais como o desamparo, a tristeza, a raiva, a culpa ou até mesmo o alívio;
- Manifestações Cognitivas como a desorientação, a falta de memória e alucinações;
- Manifestações Comportamentais como uma necessidade de nos isolarmos, um choro frequente ou uma tendência para fazermos mil coisas só para não nos confrontarmos com o vazio, o silêncio ou os nossos pensamentos;
- Manifestações Físicas como o cansaço, o nó na garganta e alterações do sono e do apetite.
O processo do luto é semelhante a um pêndulo: vamos oscilando entre ajustarmo-nos à nova realidade sem a pessoa que amamos – reconstruindo as nossas rotinas e pensando o que será do nosso futuro – e contactar com o universo da perda que vivemos – processando, elaborando e contactando com a dor e as memórias.
Dentro de uma morte existem muitas outras perdas secundárias e simbólicas.
Um luto nunca é só um luto: é uma constelação de muitos pequenos, médios e grandes lutos. É o ter perdido a pessoa, mas também os planos que fizemos em conjunto, o abraço e o telefonema diário.
É uma experiência intensa e dolorosa, uma experiência que nunca termina, mas para a qual vamos encontrando novos significados. Descobrindo que também nela existe espaço para o amor e a celebração do que vivemos com essa pessoa especial; que as datas, os cheiros, os sabores e as músicas revelam-se perfeitas máquinas de viajar no tempo, devolvendo-nos a pessoa que amamos. Às vezes, irá doer. Outras tantas, encher-nos o peito.
O luto é uma vivência única, absolutamente pessoal, mesmo quando é vivido em família. Não há dois irmãos que tenham tido a mesma mãe. Era a mesma, sim, mas era uma mãe diferente para cada um. O luto é sobre relações. Se cada relação é única, logo, cada luto também o é.
Por isso, precisamos ser fiéis à nossa forma de enlutar – alguns de nós precisarão de partilhar o que aconteceu para o entender, outros quererão tratar dos seus jardins em silêncio. Cada um saberá do seu luto. Em luto alheio não se mete a colher.