Morre-se sempre com fome, talvez por isso sirvam uma última refeição aos condenados.
Temos fome do que ficou por viver e gula pelo que não queríamos parar de viver.
O medo da morte é o medo do desconhecido.
O que virá depois? E se não houver morada seguinte: como é não existir?
O medo da morte é o medo de ser esquecido.
Quantas anos até mais ninguém dizer o nosso nome? Quanto tempo até alguém deixar de sentir saudades?
O medo da morte é o medo da ausência de significado.
O que fiz com o meu tempo? O que deixei por fazer? Fiz boas escolhas? Amei o suficiente? Ri o bastante? Movi-me pelos meus sonhos ou pelos meus medos? O que ambicionei fazer e não fiz? Agarrei-me às mágoas ou aprendi a deixar ir? Fui agradecido/a? Celebrei as coisas boas? Provei mundo? Estive nos lugares que precisava estar? Fui quem nasci para ser? Sinto-me representado/a na vida que vivi?
O medo da morte é o medo da separação.
Como é não estar para os que amo? Como é não estarem os que amo para mim?
Quanto mais evitamos a morte, mais ela nos assusta. Se ela for presente na nossa vida conseguimos reflectir sobre o que faremos sobre este tempo que é nosso e vem com prazo de validade e distinguir o essencial do supérfluo.
Ter a morte como conhecida, autoriza-nos a fazer as pazes com os mistérios da vida e da morte.
Ter a morte como conhecida, possibilita-nos deixar de viver os dias sobre slogans Y.O.L.O. – You Only Live Once / Só se vive uma vez – com adrenalina e urgência, para vivermos com propósito, ambicionando legados simples e/ou sofisticados. Permite-nos construir uma vida à nossa imagem, uma vida que todos os dias nos faça sentir saciados e não esfomeados.
Ter a morte como conhecida possibilta uma vida onde se tem pena de morrer, não medo.
Isso é, de resto, o que vos desejamos.