Os velórios e os funerais são parte da vida de uma família tal qual os casamentos, os baptizados, as formaturas e outros que tais. Se a criança é um membro activo na família, não faz sentido que participe de uns e seja preterida de outros.
Participar não significa que precisa ir ou não ir, significa que deve ser envolvida, estar a par, ter oportunidade de se despedir presencial ou simbolicamente.
Ir ou não ir é uma decisão que cabe, enquanto a criança não consegue dialogar, aos pais e depois a ela mesma. Essa decisão precisa de ser informada. Isto é, a criança precisa de entender o significado de despedida das cerimónias, o que irá encontrar e ter permissão para escolher ao que quer assistir. A educação prévia sobre a morte facilitará essa decisão. Mas caso esteja em falta, precisará ser-lhe passada aquando da morte.
No caso da criança decidir participar nos rituais fúnebres, devemos ter presente que é uma criança e como tal terá necessidades de criança. É importante levar lanchinhos, algumas atividades para que se entretenha e ter liberdade para se movimentar. Talvez precise sair do espaço onde decorre a cerimónia e correr, pular, distrair-se um pouco. É, por isso, importante que haja uma pessoa de confiança da família que possa cuidar da criança, retirando-se com a criança se esta o desejar, sem lamentar não ter assistido ao rituais.
Não importa se o conceito de morte da criança ainda é nebuloso, importar-lhe-á no futuro saber que marcou presença através de um desenho ou dos seus próprios pés, que foi incluída, informada, que pode escolher, ter voz – protagonismo no seu próprio luto.
Todas as crianças deveriam sentir-se bem-vindas no velório ou funeral de quem lhes morreu, não julgadas, muito menos excluídas.
A criança tem direitos: enlutar é um deles. E despedir-se da pessoa que lhe morreu é um movimento por demasia importante para o seu enlutar saudável.
Sobre os medos dos adultos: não são os rituais fúnebres que traumatizam, é a ausência do outro sem contexto. Conhecimento traz segurança. Pertencimento traz segurança.
Uma família que fica junta na dor, sobrevive à dor.
Uma criança que fica sozinha na dor, sucumbe à dor.