Querida pessoa enlutada,
ao tentar enfileirar as palavras para lhe escrever, sinto a presença de um silêncio profundo. As palavras são, de repente, insuficientes para a abraçar.
O luto, que agora a acompanha, é como um cão que se instalou à sua beira e se recusa a partir. Um fiel escudeiro. A dor que sente: um reflexo do amor que teve pela pessoa que lhe morreu. Enlutamos sempre na proporção do afecto. Se muito amamos, muito enlutamos.
O luto é definido como um processo de ruptura, mas prefiro pensar nele como um spin-off, um ângulo diferente pelo qual se olham os mesmos personagens. O amor não morre, a relação não se extingue, transforma-se. A sua pessoa querida continua presente, de uma maneira quase misteriosa, guiando-a, inspirando-a e ajudando-a a encontrar sentido na dor e na vida que vem depois da morte.
Dentro de si há uma infinita coleção de memórias que o tempo não poderá apagar. Abrace essas lembranças, pois são elas que, no final das contas, lhe trarão a força para seguir caminho. Escute: o amor que sente, é uma força impossível de apagar. É composta das estórias que partilharam, das mãos que seguraram, dos olhares que trocaram – e tudo isso, continua vivo em si. Somos todos relicários, museus de afectos.
A perda de alguém que amamos é uma das experiências mais difíceis que podemos vivenciar. É um vazio que nunca se preenche completamente; com o tempo, pode aprender a viver com ele, a perceber que faz parte de quem é, da sua história. E talvez, quem sabe, possa até ver nessa falta uma forma de beleza – uma beleza triste, sim, mas também uma beleza que lhe lembra a intensidade do amor que foi capaz de sentir e que se perpetua por todos os tempos e lugares.
Acredito que há em si uma força que talvez ainda desconheça. Uma força que vem da própria fragilidade, do reconhecimento de que somos todos feitos de carne, de lágrimas e de uma infinita capacidade de amar. Torço para que o tempo, seja seu aliado, e que aos poucos, as memórias que hoje a ferem, comecem a aquecê-la, a protegê-la como uma manta sobre os ombros e os joelhos nos protege dos invernos das frias casas portuguesas.
Saiba que não há uma maneira certa de lidar com o luto. Cada pessoa tem o seu próprio tempo e o seu próprio caminho. Permita-se sentir, chorar, lembrar. Permita-se também estar nos momentos presentes, ter intervalos dessa grande dor, aguarelá-la e ser cuidada por quem de si gosta. Saiba que não precisa atravessar o seu luto sozinha. Se lhe puder pedir uma coisa: peço-lhe que cuide de si mesma, tanto quanto possível. E que se lembre de que é perfeitamente normal pedir ajuda se sentir que dela precisa.
Com amor, Patrícia.